Blog História do Ensino Superior Mundial, de autoria de Álaze Gabriel.
Autoria:
Eunice
Ribeiro Durham; Helena Sampaio. Pesquisadoras do Núcleo de
Pesquisas sobre Ensino Superior - Nupes - da Universidade de São Paulo
RESUMO
O artigo trata da relação entre o setor público e o
privado em cinco sistemas nacionais de ensino superior: Argentina, Brasil,
Chile, Colômbia e México. Em cada país constatam-se dinâmicas muito específicas
da relação público/privado em seus respectivos sistemas de ensino superior. Em
contraste com o Brasil, onde a expansão do setor privado iniciou-se em meados
dos anos 60 e retraiu-se ao longo da década de 80, nos demais países, o
crescimento absoluto e relativo das matrículas no setor privado, além de mais
recente, ainda não apresentou sinais de esgotamento. Diferenças detiming
na expansão do setor privado nos cinco países suscitam questões relevantes
sobre a oportunidade da abertura do ensino superior para o mercado e sobre a
relação do Estado com os respectivos sistemas nacionais, temas, sem dúvida,
centrais no debate contemporâneo sobre ensino superior na América Latina.
INTRODUÇÃO
O sistema de ensino superior e, mais
especificamente, a universidade, tem sido, na América Latina, tema de intenso
debate político. Isso se deve, provavelmente, ao fato de as universidades terem
sempre tido forte presença política na vida nacional e sido consideradas como o
centro, por excelência, de formação das elites políticas progressistas dos
diferentes países. Mais que isso, no passado, elas se tornaram, muitas vezes,
pela ação do movimento estudantil, vanguarda de reformas políticas, sociais e
culturais, consideradas necessárias para o desenvolvimento nacional, e guardiãs
da democracia.
Por isso mesmo, o debate, até hoje, se trava em um
campo eminentemente politizado. Embora o tema da universidade, sua autonomia,
seu papel e sua função, mobilize, de forma permanente, a academia, só nos
últimos anos tem dado origem a pesquisas acadêmicas. Esse crescente interesse
pelos sistemas de ensino superior como área de investigação já produziu uma
literatura razoavelmente vasta e um debate freqüente entre pesquisadores de
diferentes países.
Um elemento central das análises recentes é o
fenômeno da privatização, que está igualmente presente no debate ideológico.
Nesse debate, o termo privatização tem sido usado para designar experiências
muito distintas. Visto freqüentemente como resultado de uma conspiração
neoliberal capitaneada pelo Banco Mundial, o termo privatização reúne, como
aspectos de uma mesma realidade, ações e problemas muito diversos. No Brasil,
por privatização entende-se tanto a cobrança de taxas e anuidades nas
instituições públicas quanto a expansão das matrículas no setor privado
(independentemente de um crescimento paralelo do setor público), todas as
formas de análise e de propostas de controle de custos, assim como diferentes
iniciativas de avaliação institucional. Todos esses aspectos são considerados,
indistintamente, como demonstração do interesse governamental em reduzir seu
investimento na educação, em geral, e na superior, em especial, e da adoção de
uma lógica de mercado deletéria aos interesses mais elevados do ensino e da sua
subordinação às exigências do capitalismo e da globalização do mercado.
Como mostram as pesquisas mais recentes, esses
diferentes aspectos não estão necessariamente associados e se apresentam em
diferentes versões conforme o país considerado. De fato, verifica-se um
crescimento contínuo do setor privado no conjunto da América Latina. Contribuindo,
em 1955, com apenas 14% do total de matrículas no ensino superior, atingiu, em
1988, perto de 38% (Balán, 1993a)1. Embora o setor público seja ainda dominante no conjunto da
América Latina, o setor privado tem crescido de forma impressionante neste
último meio século (Levy, 1986). Não há dúvida de que em diversos países o
setor privado já responde pela maioria das matrículas de ensino superior e
apresenta um dinamismo que parece ameaçar a tradicional hegemonia das
instituições estatais. O fenômeno merece análise mais objetiva. E, se as
informações disponíveis não nos permitem prever uma situação de substituição do
ensino superior público pelo privado, os dados apontam para uma alteração nas
relações estruturais que sempre existiram entre esses dois setores.
A questão da interdependência entre o ensino
superior público e privado é crucial para a compreensão da dinâmica da expansão
dos sistemas em seu conjunto; de um lado, diante das reformas estruturais mais
amplas que constam das agendas de governo dos países latino-americanos nas
últimas décadas; de outro, em relação às políticas públicas referentes ao
setor.
Para analisar o fenômeno, dados comparativos são
importantes porque permitem identificar tendências estruturais na diversidade
das situações conjunturais. Este trabalho trata da relação entre o setor
público e o privado em cinco sistemas nacionais de ensino superior: Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia e México no período entre 1955 e 1995. A escolha desses
países não foi aleatória. Deve-se, em primeiro lugar, à existência de séries
estatísticas disponíveis. Em segundo lugar, porque nesses países, conforme a
análise indica, desenvolveram-se padrões distintos de sistemas de ensino
superior. Em todos eles, entretanto, a expansão do setor privado insere-se no
processo mais geral de crescimento das matrículas globais de ensino superior.
Esse crescimento ocorre, com exceção da Argentina, no período focalizado neste
trabalho. Por outro lado, as diferenças de timing na expansão das
matrículas públicas e privadas suscitam questões relevantes no tocante à
abertura dos sistemas de ensino superior para o mercado e quanto à relação do
Estado com os respectivos sistemas nacionais.
Com base na análise do desenvolvimento do setor
privado de ensino superior na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, o
estudo procura fornecer alguns subsídios para o encaminhamento dessas questões
e contribuir, assim, para o debate sobre o fenômeno da privatização do ensino
superior na América Latina.
As questões fundamentais referem-se ao timing
da expansão do ensino superior, em geral, e do privado, em especial; à relação
entre a expansão desses dois setores; à heterogeneidade do setor privado; às
diferentes orientações imprimidas pelas políticas governamentais no tocante ao
crescimento relativo dos dois setores e à natureza das interações que, em cada
país, se estabelecem entre o ensino superior público e o privado.
O CONTEXTO HISTÓRICO
A expansão do setor privado que ocorreu nesta
segunda metade do século deve ser compreendida no contexto da tradição
universitária que foi característica da América Latina no período anterior.
Especialmente importante, nessa tradição e na história dos sistemas de ensino
superior, é o papel das universidades católicas.
A análise pioneira feita por Levy (1986a) sobre as
ondas de expansão do setor privado de ensino superior na América Latina
distingue três momentos ou movimentos distintos. O primeiro diz respeito ao
surgimento e/ou consolidação das universidades católicas; o segundo, às
instituições privadas de elite e o terceiro, às instituições privadas voltadas
para a absorção da demanda de ensino superior em grande escala, que começa a se
intensificar a partir de meados deste século.
Para se compreender a especificidade dessa última
onda de privatização é preciso distingui-la do surgimento e/ou consolidação das
universidades confessionais que se prendem a uma tradição mais antiga, a qual
estabeleceu uma outra forma de relação com o Estado. Na verdade, e durante
muito tempo, a Igreja Católica pretendeu deter o monopólio sobre o ensino
superior, utilizando recursos públicos destinados a essa finalidade em estreita
simbiose com o Estado.
Com efeito, na América Hispânica, a colonização foi
acompanhada da criação muito precoce de universidades católicas, sustentadas
pelo Estado, no modelo da contra-reforma espanhola. Em quase todos os países, a
independência política das colônias foi acompanhada de um movimento de
secularização que separou Igreja e Estado, transformando as universidades
tradicionais em instituições públicas e seculares e modernizando-as.
Essa tendência não se implantou sem forte oposição
da Igreja e os sistemas criados no século XIX resultaram dessa luta, que teve
desencadeamentos diferentes nos diversos países. No Chile, estabeleceu-se um
sistema dual, formado de universidades públicas laicas e universidades
católicas que recebiam do Estado o mesmo tipo de financiamento. Na Colômbia, a
força da Igreja católica logrou impedir a criação de uma universidade pública
laica até meados deste século. No México e na Argentina, o sucesso da
secularização foi completo, e as universidades católicas só foram recriadas, respectivamente,
nas décadas de 40 e 50 do século XX, mas separadas do Estado.
O Brasil seguiu um caminho diferente. A Coroa
portuguesa impediu a criação de estabelecimentos de ensino superior de qualquer
tipo. As primeiras instituições de ensino superior, criadas no século XIX, na
ocasião da vinda da corte (1812), não foram universidades, mas seguiram o
modelo napoleônico de faculdades ou escolas superiores autônomas, laicas e
estatais (ainda que sob influência católica), voltadas para a formação de profissionais
liberais. O confronto entre Estado e Igreja ocorreu muito mais tarde, na década
de 30 deste século, no momento da criação das primeiras universidades no país
(Schwartzman, Bomeny, Ribeiro, 1984). A corrente secular acabou predominando e
a Igreja terminou por criar sua própria rede de universidades católicas, a
partir da década de 40, com o apoio do Estado que financiou parcialmente, por
muito tempo, essas instituições paralelas.
Em um sistema com essas características, não existe
propriamente uma oposição entre os setores público e privado; instituições
católicas e laicas são muito semelhantes em seus objetivos, em sua organização,
na qualidade do ensino que ministram e, freqüentemente, até na dependência de
recursos públicos. Identifica-se, assim, em um sistema com essas
características um certo paralelismo entre instituições laicas estatais e
católicas não estatais. Trata-se portanto de um setor privado muito especial.
Outro tipo de instituição é formado por aquelas que
compõem a segunda onda apontada por Levy (1986a). São universidades ou
estabelecimentos equivalentes, laicos, não estatais e de elite. O Instituto
Tecnológico de Monterrey, no México, é um bom exemplo desse tipo. Em geral,
essas instituições são seletivas e procuram formar pessoal altamente
qualificado. Algumas delas chegam a contar com subsídios estatais, apoio
empresarial ou de elites locais. No Brasil, a Escola de Administração de
Empresas da Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro pertencem a esse tipo, assim como no Chile, as três
universidades laicas mais antigas, que são financiadas com recursos públicos.
Por fim, existem as instituições privadas criadas
para a absorção da demanda de estudantes que não lograram ingressar nas
universidades públicas ou nas instituições privadas mais seletivas. Essas
instituições, que raramente se constituem como universidades, foram, em geral,
criadas depois da década de 60 e concentram sua oferta de serviços docentes em
carreiras de alta demanda e baixo custo de produção. Reconhecidamente
funcionam, muitas vezes, como uma verdadeira "fábrica de títulos"
(Levy, 1986). Com independência garantida por seu estatuto jurídico, um grupo
considerável de instituições desse tipo atua no mercado com fins de lucro.
Com base nessas considerações, haveria que se
dedicar maior atenção às instituições do terceiro tipo, porque sua criação
altera a relação entre o setor público e o privado de ensino superior. Conforme
observado anteriormente, a existência de instituições católicas não estatais
representa uma diversificação muito pequena no sistema. As instituições
privadas, laicas, de elite constituem uma minoria. O que caracteriza o terceiro
tipo, que poderíamos denominar "empresarial", é o fato de estar voltado
para o mercado e ser controlado por ele. Isso constitui o elemento novo nos
sistemas latino-americanos. Inspirados na trilogia de Clark (1983) pode-se
afirmar que, até o desenvolvimento de um mercado educacional, tal como
conhecemos hoje, a Igreja, o Estado e a comunidade acadêmica, incluindo nesta o
movimento estudantil, funcionavam como os três pólos de tensão que regulavam os
sistemas. Do grau de tensão entre esses diferentes agentes originaram-se
sistemas com configurações tão diferentes na América Latina.
Com o crescimento das instituições de atendimento
da demanda de massa, a tensão que se estabelece é entre o mercado e o Estado.
Como o setor empresarial não depende de financiamento público, o mercado parece
ter tido mais êxito no controle do sistema, em que pese algumas tentativas de
controle, em geral frustradas, por parte do Estado.
A predominância do mercado no controle desse novo
segmento do setor privado é fundamental para entender a batalha ideológica que
se trava, em muitos países, em torno da chamada privatização. É preciso ter em
conta que a orientação para o mercado está associada à perda de autonomia (e
mesmo de influência) do corpo acadêmico no setor privado empresarial. A
resistência a essa orientação é mais comumente encontrada no setor público, cujos
atores, não sem razão, consideram esse processo como uma ameaça ao próprio ethos
universitário. Com efeito, a subordinação do pessoal docente pelas mantenedoras
(os proprietários das empresas de ensino) tem sido tão grande que, pelo menos
no Brasil, conseguiu, até agora, impedir a emergência de uma organização
sindical atuante, em contraste com o que se verifica no setor público.
Essas observações chamam a atenção para dois
aspectos, já indicados por Levy (1986a), muito importantes dos sistemas de ensino
superior contemporâneos: a heterogeneidade que carateriza o setor privado de
ensino superior na América Latina e os vários arranjos que esse setor apresenta
nos diferentes sistemas. Assim, enquanto em alguns países o setor privado
distingue-se pela predominância de universidades confessionais, em outros,
verifica-se uma combinação equilibrada entre instituições públicas,
confessionais e de atendimento da demanda de massa; ainda em outros, em que o
Brasil é um exemplo, constata-se a presença predominante de instituições do
terceiro tipo.
Este trabalho constitui uma análise preliminar
dessa diversidade e das dinâmicas próprias dos diferentes arranjos
institucionais que essa diversidade conforma.
OS DIFERENTES PERÍODOS DA EXPANSÃO DO SETOR PRIVADO
O crescimento do setor privado constitui um
fenômeno geral na América, apesar de não ter ocorrido, nos países analisados,
nem na mesma época nem com a mesma intensidade. Foi muito intenso no Brasil e
na Colômbia nos anos 60 e 70. No Chile, Argentina e México, a expansão é mais
recente, sendo característica do final dos anos 80 e 90. Essas diferentes ondas
de expansão do setor privado são responsáveis pelo seu crescimento contínuo
desde os anos 50 no conjunto da região.
Este trabalho considera o período posterior a 1950,
pois foi a partir dessa data que a expansão dos sistemas nacionais de ensino
superior começou a apresentar a sua complexidade atual. Para apreender essas
diferentes dinâmicas de expansão, distinguimos, para fins da análise, três
períodos. O período inicial corresponde à década que transcorre entre 1955 e
1965; o segundo período compreende de 1965 até o final da década de 70 e o
terceiro, a década de 80 e o início dos anos 90. Em cada um dos períodos, duas
variáveis são fundamentais: a expansão das matrículas no conjunto do sistema de
ensino superior; a contribuição relativa dos setores público e privado nessa
expansão.
O primeiro período: 1955-1965
É no período entre 1955 e 1965 que, em quatro dos
cinco países aqui considerados, se inicia a fase de grande expansão das
matrículas de ensino superior, a qual se prolonga por toda a década seguinte.
Apenas na Argentina a fase de grande expansão é anterior ao período focalizado
neste trabalho. Todavia, qualquer que seja o período, o crescimento das matrículas
de ensino superior nos países analisados assinala a passagem de sistemas de
elite para sistemas mais abertos, capazes de incorporar maior contingente
estudantil. Não é um fenômeno exclusivo da América Latina, mas faz parte, com
algum atraso neste continente, de uma tendência mundial dos sistemas de ensino
superior no Pós-Guerra (Clark, 1983).
Os dados da tabela
1 permitem colocar algumas questões relativas à interação entre sistemas
nacionais de ensino superior, Estado e mercado, assim como à dinâmica entre
setores público e privado em cada um dos países no período entre 1955-1965.
Conforme se verifica na tabela
1, a Argentina é, conforme já notamos, um caso especial, pois o período em
que se deu o crescimento das matrículas de ensino superior é anterior a 1955.
Nesse país, a precocidade da expansão das matrículas em relação aos demais
países considerados não implicou, todavia, a ampliação do sistema em termos de
número de instituições de ensino superior. Tal expansão de matrículas coincide
com o primeiro período peronista, de 1944 a 1955 e foi resultado, sobretudo, da
adoção de uma política de ingresso irrestrito às universidades nacionais,
públicas.
O crescimento das matrículas de ensino superior na
Argentina se deu, portanto, até 1955, exclusivamente pela ampliação do número
de vagas no setor público. Em 1955, a Argentina liderava com mais de um terço
do total de matrículas de ensino superior na América Latina, com 150 mil
estudantes matriculados. Em termos absolutos, isso significava mais que o dobro
do total brasileiro.
O setor privado de ensino superior na Argentina era
inexpressivo, absorvendo apenas 1% das matrículas. Nos dez anos seguintes
(1955-1965), as matrículas de ensino superior continuaram crescendo, porém num
ritmo moderado. O Estado mantinha-se como o principal responsável por essa
expansão; todavia, o setor privado começava, lentamente, a se desenvolver,
mudando de patamar. Em uma década, a participação relativa das matrículas do
setor privado passou de 1% para 8% do total de matrículas de ensino superior no
país. Ainda que esse aumento não tenha introduzido nenhuma mudança na
configuração do sistema argentino, ele representou um crescimento da ordem de
1.200% das matrículas em instituições particulares. Esse incremento deveu-se,
em grande parte, ao processo que resultou na reforma universitária de 1958 e
foi conseqüência dela. A precocidade da reforma universitária na Argentina,
comparativamente às reformas que ocorreram no Chile e no Brasil, é outro fator
que indica sua liderança nessa época. A reforma atuou, sobretudo, como elemento
de modernização do sistema, buscando redefinir o modelo de universidade
mediante a introdução da investigação científica e da diversificação da oferta
curricular. Foi no ano da reforma que foi fundada a Universidade Católica da
Argentina e data dessa época o reconhecimento e a autorização das universidades
privadas para emitir títulos profissionais (Balán,1993a). O reconhecimento das
instituições privadas inscreveu-se no bojo de um amplo debate nacional
polarizado nos termos "educação laica versus educação livre"
(Della Paolera, 1993). A aliança entre a Igreja católica e os setores liberais
no movimento que destituiu Perón foi decisiva para a implantação da alternativa
católica ao ensino superior estatal. Assim, o sistema de ensino superior
argentino, que até então era quase que exclusivamente público e laico, centrado
em poucas universidades, com um setor privado periférico (Geiger,1986), dava os
primeiros passos em direção à iniciativa não estatal no atendimento à demanda
de ensino superior. Esse processo, apesar de pouco expressivo em termos
percentuais, traduziu a passagem de um setor privado, que detinha pouco mais de
1.500 alunos, em 1955, para um de cerca de 20 mil alunos, em 1975, contribuindo
para a ampliação do número e a diversificação das instituições de ensino
superior.
Na história dos demais países, a expansão das
matrículas de ensino superior foi posterior à da Argentina. Também, em todos
eles, antes do início da expansão, a participação de um setor privado já era
bem mais elevada. No Brasil, Chile e Colômbia, o setor privado respondia, em
1955, por mais de um terço das matrículas. O México vinha em seguida, numa
posição intermediária entre esses países e a Argentina, com um setor privado
responsável por 14% das matrículas (o mesmo percentual da América Latina).
O Brasil, entre todos esses países, sempre se
caracterizou pelo peso muito maior do ensino superior privado. Já em 1933,
quando se deu início à coleta de informações estatísticas sobre educação no
país, e, portanto, muito antes do período que estamos considerando, a
participação relativa das matrículas do setor privado no sistema era de 45%. A
grande dimensão do setor privado no país ainda pode ser constatada nos dados
gerais para a região: em 1955, quando o percentual das matrículas no setor
privado era da ordem de 14% para o conjunto dos países do continente, se
excetuarmos o Brasil, o percentual cai para 7%.
No Brasil, o crescimento de mais de 100% do total
das matrículas de nível superior e a estabilidade da participação percentual
das matrículas privadas entre 1955 e 1965 mostram dois processos concomitantes
de crescimento: um do setor público, outro, do privado. O crescimento do setor
público se deu, em grande parte, por iniciativa federal. O período compreendido
entre o início dos anos 50 até o início da década de 60 corresponde ao processo
de criação de universidades federais e/ou de federalização de universidades ou
instituições isoladas privadas e estaduais (Mattos, 1983; Cunha, 1989). O
segundo processo refere-se à manutenção da expansão do setor privado. Para
apresentar, em 1965, o mesmo patamar de participação percentual que apresentava
em 1955, em um cenário de crescimento geral de matrículas, o setor privado
também teve de ampliar muito a sua oferta de vagas. O crescimento das
matrículas no setor privado, já nesse período, foi acompanhado de um processo
incipiente de diferenciação das instituições de ensino superior. Nesse
processo, destaca-se a existência, desde os anos 40, de uma rede de
universidades católicas, que recebiam então substanciais recursos do Estado
(Clark, 1983; Cunha, 1985). Essas instituições tendem a ser muito semelhantes
às universidades públicas, constituindo um setor paralelo (Geiger, 1986) ao
ensino superior público. Também, nesse período, constata-se o surgimento de
instituições confessionais não universitárias e de estabelecimentos privados
laicos que não são universidades. Esses estabelecimentos atendiam a uma dupla
demanda: de um lado, por cursos de formação de profissionais liberais de alto
prestígio, como faculdades isoladas de Medicina, Odontologia e Engenharia, mas
também por cursos de baixo custo, como Direito; de outro, por cursos menos
seletivos e de menor prestígio, como os de formação de professores para o 2º
grau, Ciências Contábeis, Pedagogia, entre outros2.
Havia, contudo, uma demanda represada que
pressionava pela ampliação de vagas no ensino superior. Essa foi a bandeira do
movimento dos chamados "excedentes", isto é, candidatos aprovados nos
exames vestibulares do setor público que não logravam classificação para ocupar
as vagas, relativamente escassas, nos cursos oferecidos (Cunha, 1985, Martins,
1989). Essa bandeira foi incorporada pelo movimento estudantil, que pleiteava
não só a expansão do número de vagas no setor público, mas também uma ampla
reforma no sistema de ensino superior (Durham, 1993). Nesse contexto, o
crescimento das matrículas de ensino superior, no Brasil, no período entre 1955
e 1965, embora constante, se deu de forma a preservar o equilíbrio entre o
setor público e o privado.
No México, de forma análoga à Argentina, e ao
contrário do Brasil, o crescimento do sistema também foi sustentado pelo setor
público e vinculou-se, em grande medida, à política de democratização do acesso
às universidades públicas. No período de 1955 a 1965, as matrículas de ensino
superior cresceram quase 200%, enquanto a participação relativa das matrículas
no setor privado subiu de 14% para 15% (ver Tabela
1). A mesma observação apresentada para o Brasil e para a Argentina cabe ao
México. Para manter esse percentual de participação em torno de 15% em um
quadro de crescimento geral de matrículas, o setor privado mexicano também
experimentou um significativo crescimento, embora não tenha sido suficiente
para alargar sua fatia de participação no total de matrículas de ensino
superior nesse país.
No Chile, as matrículas do setor privado
representavam, em 1955, 36% do total das matrículas de ensino superior; dez
anos depois, elas passaram a representar 37%, o que mostra um quadro de
estabilidade. Quando teve início a expansão das matrículas de ensino superior
no Chile, o setor privado já respondia por mais de um terço delas. O mesmo
fenômeno ocorreu no Brasil. Existe, contudo, uma diferença fundamental entre os
setores privados no Brasil e no Chile. A marca dessa distinção residia, até
1980, no tipo de interação entre o Estado chileno e o sistema de ensino
superior. No Chile, até bem recentemente, a demarcação entre setores público e
privado era muito fluida e havia uma baixa diferenciação de status entre
as instituições de ambos os setores (Clark, 1983; Levy, 1986a). As duas universidades
estatais e as seis privadas tradicionais - três católicas e três laicas - eram
igualmente financiadas com recursos públicos (Cox, 1996). O repasse público
consistia no financiamento incremental baseado em um orçamento prévio das
alocações e também em uma fórmula de distribuição de recursos entre as
universidades que variava em razão do montante de suas matrículas (Brunner,
1986).
Os dados da tabela
1, para o caso chileno, portanto, devem ser lidos com uma certa cautela. A
distinção, baseada na origem do financiamento, entre ensino público e ensino
privado não se aplica, integralmente, no sistema de ensino superior chileno.
Embora no período entre 1955 e 1965 o setor privado no Chile tivesse mantido
uma taxa de participação no total de matrículas de ensino superior em torno de
35%, é preciso notar que essa estabilidade na participação se deveu, em muito,
ao financiamento estatal às universidades privadas e não ao próprio
financiamento privado, proveniente de anuidades estudantis, como se verificou
nos demais países.
Na Colômbia, como no Brasil e no Chile, as
matrículas privadas sempre tiveram um peso considerável. Já em 1955, o setor
privado respondia por 38% das matrículas de ensino superior. Com um sistema de
dimensão reduzida, com pouco mais de 13 mil alunos, essa taxa de participação
do setor privado equivalia a aproximadamente cinco mil alunos que, com grande
probabilidade, poderiam estar distribuídos em algumas poucas instituições
privadas, boa parte delas, católicas. Nesse país, as universidades católicas,
embora não recebessem financiamento estatal integral, como ocorria no Chile,
sempre tiveram acesso a significativos recursos públicos, quer mediante o
financiamento direto, quer por meio de outros mecanismos de repasse, como o
crédito educativo (Levy, 1986).
Na realidade, a configuração de um setor privado
católico, que funcionou de forma paralela ao setor público até a década de 70,
teve sua origem na alternância entre dois modelos de universidade, a estatal
laica e a privada confessional, sustentada, pelo menos parcialmente, pelo
Estado. Os dois modelos foram concorrentes e se alternaram, na Colômbia,
durante todo o século XIX e parte do século XX (Lúcio, Serrano, 1991; Klein,
Sampaio, 1996). A alternância correspondia à hegemonia política que, em cada
período, consolidou determinada facção ou aliança de facções. Desse modo,
quando o Estado estava em mãos anticlericais, as ordens religiosas eram
expulsas e se restabelecia o controle das universidades laicas. Por sua vez, a
hegemonia dos grupos conservadores implicava o retorno dos católicos e seu
controle sobre o sistema educacional e o enfraquecimento da universidade laica.
Essa situação se manteve durante todo o século XIX, e adentrou nas primeiras
décadas deste século, quando se iniciou, em 1930, o processo de modernização e
secularização do Estado colombiano. Além de tardia, a secularização do Estado
colombiano foi menos radical que em outros países latino-americanos, entre os
quais o México é o melhor exemplo (Klein, Sampaio, 1996; Lúcio, Serrano, 1991).
Assim, no período entre 1955 e 1965, o que ocorreu na Colômbia foi a manutenção
desses dois setores paralelos, constituídos, respectivamente, por instituições
públicas e laicas e privadas confessionais ou semi-estatais.
No decorrer desse período, com exceção da Argentina
e com algumas variações conjunturais, o que se observa é uma expansão
concomitante dos setores público e privado, com a tendência à manutenção do
equilíbrio relativo entre ambos.
O segundo período: 1965-1975
Nos dez anos seguintes, de 1965 a 1975,
presenciam-se transformações bem mais profundas nos sistemas de ensino superior
dos países considerados. Em primeiro lugar, a expansão do ensino superior se
acelerou muito. No conjunto da América Latina, as matrículas de ensino superior
passaram de 859 mil, em 1965, para quase 3,4 milhões, dez anos depois. Isto é,
multiplicou-se por quatro, enquanto na década anterior havia apenas duplicado.
O crescimento maior ocorreu no Brasil (668%),
seguido da Colômbia (334%), México (275%), Chile (251%) e Argentina (142%). Uma
explicação para esse crescimento menor na Argentina é o fato de esse país ter
passado por três décadas de crescimento ininterrupto de matrículas de ensino
superior (ver Tabelas
1 e 2).
Os demais países parecem atender a uma demanda represada3 que a Argentina já teria atendido.
Quanto ao crescimento relativo das matrículas do
setor privado, o comportamento dos diferentes países é variado. No Chile e no
México, onde o crescimento total das matrículas esteve perto de 250%, o setor
privado manteve-se estável (no Chile declina um pouco, inclusive). Na
Argentina, a participação relativa das matrículas do setor privado foi
reduzida, passando de 8% para 12%. No Brasil e na Colômbia, essa participação
atingiu, respectivamente, 65% e 52% do total de matrículas de ensino superior.
No caso da Argentina, o constante aumento, ainda
que reduzido, da participação relativa das matrículas no setor privado, não
deixa de ser significativo e está associado ao cenário político do país. A
partir de 1966, a instabilidade institucional e a repressão política
contribuíram não só para interromper o crescimento e a desconcentração regional
do setor público de ensino superior no país, mas também para desorganizar as
atividades acadêmicas, especialmente na Universidade de Buenos Aires. Foi no
período entre 1976 e 1977, o mais repressivo do regime militar, que as
matrículas no setor público de ensino superior efetivamente diminuíram. Nesse
quadro, o setor privado, notadamente a Universidade Católica Argentina,
constituiu-se em uma alternativa ao ensino superior público, oferecendo maiores
possibilidades de formação acadêmica regular. Havendo também o governo militar
deixado de investir na pesquisa universitária e na formação do quadro docente,
a qualidade do ensino superior público decaiu (Balán, 1993). Acresce-se, ainda,
nesse quadro de deterioração do ensino superior público, o êxodo de
intelectuais promissores, sem condições políticas e financeiras para desenvolverem
suas atividades de pesquisa, bem como o gigantismo das universidades, provocado
pelo ingresso irrestrito.
No México, a expansão do ensino superior também
esteve associada a uma política de liberalização do ingresso à universidade
pública. Ainda que o ingresso não tivesse caráter totalmente irrestrito, como
acontecia na Argentina, ele era, no mínimo, pouco seletivo. Os estudantes que
freqüentavam os cursos pré-universitários oferecidos pelas universidades
públicas tinham acesso imediato a essas instituições. Como não havia controle
para matricular-se nesses cursos pré-universitários, o ingresso na universidade
pública era, praticamente, automático4. Nesse contexto, o setor privado manteve-se, praticamente,
estável no período 1965-1975 (ver Tabela
1). Deve ser notado, entretanto, que essa estabilidade da participação
relativa das matrículas no setor privado exigiu um crescimento substancial em
números absolutos. O crescimento das matrículas públicas, nesse país,
decorrente da política de liberalização do acesso à universidade pública,
provocou, à semelhança do que ocorreu na Argentina, um agigantamento dessas
instituições, sendo a Universidade Metropolitana do México o melhor exemplo.
Mesmo recebendo fluxos de recursos estáveis do Estado, ao longo de toda a
década de 70, as universidades públicas mexicanas não conseguiram preservar seu
padrão de excelência (Klein, Sampaio, 1996) . A dimensão que estavam assumindo
dificultava a preservação de sua qualidade acadêmica5.
Nesse contexto, uma parte do setor privado,
representado por algumas instituições laicas e outras confessionais, que
restringiram o acesso, mediante exames de seleção e cobrança de anuidades dos
alunos, consolidou seu prestígio acadêmico e apresentou-se como alternativa
valorizada em relação ao ensino superior público. O Instituto Tecnológico de
Monterrey é o exemplo clássico dessa alternativa privada de elite ao ensino
público de massa. Para Levy (1986a), a criação dessas instituições laicas de
elite representa uma segunda fase do processo de privatização do ensino
superior na América Latina - embora essa onda seja, muitas vezes, contemporânea
ao aparecimento, em outros países, de instituições privadas de atendimento à
demanda de massa. Segundo esse autor, o movimento de criação dessas
instituições privadas expressa o descontentamento de setores das elites com o
ensino oferecido pelo setor público e sua resistência ao ensino confessional. Balán
(1993) acrescenta ao descontentamento pela qualidade, outro, de natureza
política. Para esse autor, a existência de grupos liberais que se opunham ao
esquerdismo imperante no ambiente das universidades públicas foi um elemento
importante para o desenvolvimento dessa alternativa privada - laica ou
confessional - ao ensino público.
No México, ainda, ao lado das instituições laicas
de elite e de algumas universidades católicas, foram criados, no auge da
expansão do sistema, e à semelhança do que havia ocorrido no Brasil,
estabelecimentos particulares não universitários com uma oferta reduzida de
cursos, em geral concentrados nas áreas de Humanidades e de Ciências Sociais
Aplicadas. O setor privado mexicano, que surgiu nesse período de expansão,
apesar de muito heterogêneo, teve um peso pequeno no sistema de ensino superior
mexicano, que se manteve então predominantemente público.
Constata-se, assim, tanto no México como na
Argentina, que, apesar de conjunturas político institucionais distintas, a
absorção da demanda de massa de ensino superior pelo setor público, mediante
políticas de ingresso irrestrito, ou quase, inibiu, no período, o
desenvolvimento de um mass private sector, segundo a terminologia de
Geiger (1986), ou de um setor privado de satisfação de demanda, segundo Levy
(1986a). Nesses países, a iniciativa privada orientou-se antes para atender à
demanda de elites locais descontentes com a deterioração do ensino público
(Levy, 1986) e, segundo Balán (1993), com a excessiva politização do ambiente
universitário público. Nesses países, a interação entre setor público e privado
de ensino superior adquiriu, portanto, novos contornos.
A grande expansão do sistema de ensino superior
chileno ocorreu entre 1968 e 1973, anterior portanto à instalação do regime
militar autoritário. Essa expansão foi conduzida pelo setor estatal, por meio
da criação de novas universidades e da ampliação das já existentes, mediante
instalação de sedes regionais. No período 1965-1975, as matrículas totais mais
do que triplicaram, passando de cerca de 42 mil estudantes para cerca de 147
mil. Ademais, o período também foi rico em inovações para o sistema. A
Universidade do Chile, por exemplo, atuou como uma ponta de lança no processo
de modernização do ensino superior do país. Com base em iniciativas que
partiram de sua própria liderança acadêmica e que passaram ao largo da área
governamental, ela introduziu mudanças na moldura institucional da pesquisa e
criou mecanismos de articulação entre a universidade e a sociedade em geral, e
o setor produtivo em particular. Um dos objetivos das mudanças era o de romper
com o modelo tradicional de pesquisa concentrado nas Ciências Naturais e
adquirir competência nas novas áreas tecnológicas, nas áreas agrárias e nas
Ciências Sociais. A ampliação e a redefinição da estrutura de pesquisa foram
viabilizadas por um fluxo constante de recursos externos (Fuenzalida, s.d.;
Klein, Sampaio, 1996).
No Chile, como no Brasil, o acesso ao ensino
superior público sempre foi mais restrito, dependendo de aprovação em exame
específico. Isso sem dúvida foi um fator decisivo para a manutenção, em ambos
os países6, de um setor público de tamanho mais reduzido, comparativamente
aos sistemas mexicano e argentino, e que preservou prestígio acadêmico. Além do
mais, o Estado chileno, comparativamente aos Estados brasileiro e colombiano -
cujos países também já contavam com setores privados de grande dimensão-,
parece ter exercido maior controle sobre o crescimento do sistema e, em
especial, sobre a expansão do setor privado.
Na Colômbia, entre 1965 e 1975, as matrículas
totais no ensino superior cresceram 334,4%, caracterizando o período de maior
expansão do ensino superior no seu conjunto. O setor privado que respondia por
43% passou a absorver mais da metade do total de matrículas de ensino superior.
Em números absolutos, isso representou mais de 100 mil estudantes matriculados
no setor privado. A absorção desse montante de alunos não poderia ter se dado
somente pelo incremento de vagas nas universidades tradicionais católicas ou
nos institutos laicos de elite. Essa absorção foi feita por um novo setor
privado de atendimento à demanda de massa, como havia se dado no Brasil. Nesse
país, assim como no México, não houve reforma universitária no período que
antecedeu à expansão do sistema de ensino superior. Um dos efeitos da ausência
de uma reforma foi o enfraquecimento da universidade pública. De um lado,
porque sendo incapaz de suprir a demanda por formação superior, o setor público
abriu para a iniciativa privada espaço para a criação de estabelecimentos menos
seletivos, voltados ao atendimento de uma clientela crescente que buscava formação
superior. O incremento dessa clientela fazia parte do processo de urbanização
relativamente recente do país (Lúcio, Serrano, 1991). De outro lado, o setor
público, especialmente o segmento universitário, perdeu prestígio; sem reforma,
ressentiu-se, aos olhos das elites locais, de uma lufada modernizante. Nesse
cenário, alguns institutos privados laicos mais seletivos começam a ter um peso
diferencial no sistema, atraindo jovens das camadas sociais de maior poder
aquisitivo.
Na Colômbia, contanto, tal como ocorreu no Brasil,
o setor privado foi o carro- chefe da expansão do sistema de ensino superior.
Diferentemente do Brasil, entretanto, o setor público colombiano saiu
duplamente perdedor: não só diminuiu sua participação relativa no sistema, mas
também perdeu prestígio. O setor privado, por sua vez, tendeu a se expandir nas
extremidades do sistema: o de maior prestígio e o de menor qualidade.
O Brasil é o país que apresenta, nesse período, o
maior crescimento global das matrículas de ensino superior. É também o país
onde o setor privado mais cresceu. Até 1968, assistiu-se a intensa resistência
política promovida pelo movimento estudantil, com amplo apoio docente, ao
regime militar que se instalara em 1964. Nesse cenário conturbado
politicamente, ergueu-se novamente a bandeira da reforma universitária e da
ampliação do número de vagas no ensino público. O ideal era o estabelecimento
de um modelo uniforme, constituído exclusivamente para universidades públicas e
gratuitas, e que associasse o ensino à pesquisa (Durham, 1993). Em 1968, foi
decretada a reforma universitária; também nesse ano foi editado o Ato
Institucional n.5, inaugurando a fase mais repressiva do regime militar.
A reforma de 1968 incidiu especialmente sobre as
universidades. Por isso atingiu, basicamente, o setor público e as poucas
universidades privadas confessionais. O setor privado de ensino era formado, em
sua maioria, por instituições não universitárias e, sendo assim, foi muito
menos atingido.
A ação da reforma sobre o setor público foi
essencialmente qualitativa: além de criar um espaço para a pesquisa dentro da
universidade e de estimular a profissionalização dos docentes, por meio da
incorporação ao regime de tempo integral, vinculou a ascensão na carreira ao
aumento da qualificação e ao treinamento em pesquisa. Criou-se, com isso, uma
clientela crescente para os programas de pós-graduação que, nessa época,
começavam a se instalar no país e que vieram a ter, na década de 70, notável
expansão. Como conseqüência, elevou-se substancialmente o custo aluno no setor
público. Por isso mesmo, as matrículas de graduação no setor público, embora
também tivessem crescido, sobretudo mediante a ampliação do número de vagas em
universidades federais, não foram suficientes para fazer frente à demanda
crescente de formação superior oriunda dos setores médios urbanos que, nessa
época, também estavam se ampliando (Durham, 1993; Schwartzman, 1992). De certo
modo, a política de ingresso às universidades públicas, continuando a ser
seletiva, manteve o setor público com dimensões mais restritas.
Nessas circunstâncias, o setor privado de ensino
superior teve possibilidade de atender à demanda reprimida do grande número de
candidatos que não conseguia ingressar nas universidades públicas. O setor
privado ampliou-se por meio de instituições não universitárias, de pequeno
porte, que passaram a oferecer cursos de baixo custo em carreiras como Letras,
Ciências Humanas e, principalmente, Ciências Sociais Aplicadas (Direito,
Economia, Administração, Contabilidade). A participação relativa dos
estabelecimentos privados no sistema sempre foi maior que a participação
relativa de suas matrículas, o que evidencia o processo de pulverização da
oferta privada de ensino superior. No Brasil, coube ao setor privado atender à
massificação do ensino superior desencadeada já no final dos anos 60, dele se
beneficiando. Os benefícios correspondiam a retornos financeiros muito
significativos, derivados de uma inserção fácil em um mercado pouco seletivo e
altamente lucrativo, em razão da existência da demanda reprimida. Os custos
dessa massificação, contudo, recaíram sobre todo o sistema: a proliferação de
instituições de baixa qualidade (Martins, 1989). As normas para regulamentar a
expansão do ensino superior, nesse período, em que pesem algumas recomendações
pontuais do Ministério da Educação visando controlar seu crescimento
desordenado, foram meramente burocráticas e ineficazes. Era o mercado e não o
Estado que passava a moldar o crescimento do setor privado no Brasil. Com efeito,
ao longo desses 20 anos, de 1955 a 1975, o setor privado deixou de ser um setor
paralelo, com status e funções relativamente similares às do setor
público, para se constituir em um mass private sector (Geiger, 1986),
complementando o setor público mais seletivo e de maior prestígio.
O ESTADO, O SETOR PÚBLICO E O PRIVADO NAS DÉCADAS
DE 80 E 90
Os anos 80 inauguram uma nova fase para os sistemas
de ensino superior dos países latino-americanos. As razões desse marco podem
ser alinhadas em torno de dois eixos: o primeiro refere-se à consolidação da
participação ampliada do ensino superior privado. O segundo, à redefinição, nos
diferentes países, da relação do Estado com os respectivos sistemas nacionais
de ensino superior.
Em que pesem as oscilações entre diferentes fontes
estatísticas para o período, é possível notar algumas tendências gerais. A
primeira é a queda no ritmo de crescimento das matrículas totais de ensino
superior em quase todos os países, com exceção da Argentina. A segunda
tendência é o aumento da participação relativa das matrículas do setor privado
em quase todos os sistemas nacionais de ensino superior, com exceção do Brasil.
De acordo com a tabela
3, na Argentina, o crescimento de 95,7%, no período 1982-1991, mostra antes
uma recuperação do sistema diante do refluxo verificado no período anterior à
década de 80. O decréscimo das matrículas de ensino superior, que ocorreu entre
1975 e 1982, bem como a recuperação posterior, devem ser interpretados à luz
dos acontecimentos políticos do país. Alterações na ordem
político-institucional refletiram-se diretamente no financiamento do ensino
superior público e são responsáveis, em grande medida, pela oscilação que se
verifica nas matrículas. Nos anos de 1976 e 1977, os recursos para as
universidades nacionais apresentaram uma taxa de variação anual negativa de
46,9% em relação aos anos anteriores, resultando em uma diminuição acentuada
nas matrículas (Balán,1993a)7. Superada essa fase, registrou-se uma recuperação no
financiamento público para as universidades nacionais (públicas). Todavia, os
montantes destinados a essas instituições em 1980, ano de maior afluência de
recursos para o ensino superior durante todo o regime militar, ainda eram
inferiores aos índices alcançados no ano de 1974 (Balán, 1993a). Essa é uma das
causas que explicaria a diminuição das matrículas de ensino superior na
Argentina a partir da segunda metade da década de 70 bem como a sua recuperação
que se inicia nos anos 80, com o governo Alfonsin.

No decorrer da década de 80, na Argentina, sob
governos civis, é possível identificar dois momentos distintos na política de
financiamento das universidades nacionais. O primeiro, compreendido entre 1983
e 1988, caracterizou-se por uma expansão do gasto em educação e pelo aumento
das matrículas, com o retorno da política de ingresso irrestrito às
universidades públicas. O segundo período, de 1988 a 1990, foi marcado por uma
redução gradativa, porém constante, dos gastos públicos para o ensino superior,
como parte de um conjunto de reformas visando ao ajuste fiscal. Com efeito,
entre 1991 e 1994, as matrículas de ensino superior nesse país registraram taxa
de crescimento negativo da ordem de 2%, conforme se vê na tabela
3.
Nesse contexto, chama a atenção o comportamento do
setor privado de ensino superior na Argentina. Os anos em que o sistema se
contraiu, em conseqüência de cortes orçamentários para as grandes universidades
nacionais, correspondem ao período de maior participação relativa das
matrículas do setor privado. Em 1982, o setor privado respondeu por 22% das
matrículas de ensino superior que, por sua vez, tinham decrescido em relação ao
ano de 1975. A recuperação do setor público entre 1982 e 1991, reflexo do
incremento dos gastos para o ensino superior, provocou, por seu turno,
diminuição da participação relativa das matrículas do setor privado. Inversamente,
em 1994, quando houve taxa negativa de crescimento das matrículas totais, o
setor privado aumentou para 20% sua participação relativa no sistema. Embora
tenha ocorrido aumento, o setor privado não conseguiu atingir o índice de 1982,
quando o sistema estava, efetivamente, mais comprimido (Tabela
2).
O setor privado na Argentina parece cumprir uma
função suplementar ao setor público: aumenta e diminui a participação relativa
de suas matrículas no sistema de ensino superior em conformidade com o fluxo de
recursos do Estado para as universidades nacionais. Paolera (1993), entretanto,
apresenta uma interpretação diferente. Para esse autor, o rápido e recente
crescimento da participação relativa das matrículas do setor privado no sistema
argentino é uma das conseqüências da crise econômica pela qual passou o país
entre 1989 e 1990 e corresponderia a uma segunda etapa da privatização do ensino
superior nesse país. Segundo Paolera, a crise de 1989/1990, resultante de
mudanças estruturais visando dinamizar e tornar mais competitiva a economia no
país, deflagrou um aumento no preço relativo dos custos de ensino superior
privado. O aumento, por sua vez, provocou uma situação de demanda insatisfeita
pela qualidade da formação superior oferecida pela iniciativa privada. Entre
1989 e 1992, segundo dados fornecidos por Paolera (1993), a Universidade
Católica Argentina aumentou a taxa de matrícula cobrada de seus alunos em cerca
de 82% em termos absolutos. Também a Universidade de Belgrano (particular)
aumentou em 213% em termos absolutos nesse mesmo período. A alteração no preço
relativo do ensino superior, em um contexto de oferta limitada e demanda crescente,
seria um dos fatores que levaram, segundo a análise de Paolera, muitas
instituições que já tinham vantagens competitivas na área de docência e/ou na
de pesquisa em outros níveis educacionais, a se estabelecerem como
universidades. Entre os novos estabelecimentos criados recentemente constam a
Associação Civil Escocesa San Andrés, com mais de um século de prestígio em
ensino de nível fundamental e médio, a qual criou, em 1989, a Universidade de
San Andrés. Também a Fundação e o Instituto Torquato Di Tella, pioneiros no
desenvolvimento de pesquisas na área de Ciências Sociais, fundam uma
universidade com o mesmo nome. Somam, nesse conjunto de universidades privadas
recém-criadas, a Universidade Maimonides, a Universidade Austral, a
Universidade de Palermo e a Universidade Adventista, entre outras. Entre 1987 e
1995, duplicou o número de universidades privadas no país, passando de 23 para
46 (Fanelli, 1997).
O surgimento dessas novas instituições na Argentina
consolidou e diversificou o setor privado de ensino superior. O mercado, até
então quase monopolizado pelo Estado, tornou-se dual: de um lado, encontra-se
uma oferta de ensino superior gratuito, autônomo e mantido pelo Estado; de
outro, um serviço pago, oferecido pela iniciativa privada, extremamente
competitivo no recrutamento de alunos e também muito heterogêneo no que diz
respeito à qualidade do serviço que oferece.
No Brasil, embora não tenha havido um decréscimo
das matrículas de ensino superior nesse período, houve, certamente, uma
estagnação. A taxa de crescimento diminuiu de forma considerável em relação à
década de 70. Em dez anos (1980-1990), as matrículas totais cresceram apenas
10,8%; entre 1990 e 1994, o crescimento foi de 7,9%.
Diferentemente da Argentina, onde a diminuição do
índice de crescimento das matrículas de ensino superior resultou, sobretudo, da
redução dos recursos do Estado para as universidades nacionais, no Brasil a
desaceleração do crescimento das matrículas de ensino superior faz parte de
outra dinâmica.
Em primeiro lugar, no Brasil, não se verificou, no
decorrer dos anos 80, redução substancial do financiamento público para o
ensino superior. Em segundo lugar - e essa é uma diferença fundamental entre os
dois países - a expansão do sistema de ensino superior no Brasil, que ocorrera
na década anterior, foi liderada pelo setor privado. Sendo assim, foi a
resposta da iniciativa privada à demanda de mercado que orientou o ritmo de
crescimento do ensino superior e, em grande parte, foi a poupança privada que
financiou a grande expansão do sistema da década de 70. Em meados da década de
1980 esse mercado já estava plenamente atendido, o que explica o ligeiro
declínio da sua participação nas matrículas no período. Nesse quadro, o que
chama a atenção é o aumento dos gastos com pessoal do setor público que quase
quintuplicaram8 entre 1974 e 1989. A exceção foi o período de 1980/1984, quando
os gastos com pessoal foram reduzidos e, mais recentemente, o período que se
iniciou em 1990 e vem se prolongando até o presente, em que as despesas com
pessoal têm declinado de forma acentuada (Schwartzman, 1993). Nesse sentido, a
despeito da crise financeira enfrentada pelo Estado brasileiro desde 1977, o
orçamento das universidades federais escapou, durante boa parte, nos últimos 20
anos, do rigor dos cortes orçamentários executados pelas autoridades da área
econômica. Isso se deveu a dois fatores: de um lado, à vinculação constitucional
de percentual da receita de impostos para a educação (18% no caso da União e
25% no caso de estados e municípios); de outro, há que se considerar os
benefícios concedidos aos funcionários públicos (entre os quais se inclui o
pessoal das universidades públicas), como a estabilidade no cargo e a
irredutibilidade de vencimentos. Nesse quadro, o orçamento das universidades
federais tornou-se inelástico, sem que a manutenção de recursos estivesse
associada ao aumento do número das matrículas.
O crescimento tímido das matrículas de ensino
superior no Brasil - menos de 8% que se verificou entre 1990 e 1994 - resultou,
além dos fatores acima apontados, de um outro muito relevante: o
estrangulamento que atingiu nos níveis anteriores de ensino (fundamental e
médio). As matrículas no ensino superior deixaram de apresentar o mesmo ritmo
de crescimento, verificado nas décadas anteriores, porque havia um represamento
nos níveis anteriores ao ensino superior: poucos lograram ingressar e, menos
ainda, concluir o ensino de nível médio. Em algumas regiões, notadamente na
Região Sudeste, havia mais vagas no ensino superior do que egressos do ensino
médio. Nesse contexto, constata-se também a redução da participação relativa
das matrículas do setor privado (Tabela
2). O crescimento do setor privado, no período anterior, deu-se pela
absorção de uma demanda represada constituída - além dos egressos do ensino
médio, cuja rede também tinha se ampliado naquele período -, por um contingente
de pessoas mais velhas, já inseridas no mercado de trabalho, e também pelo
aumento do contingente feminino a aspirar a uma formação de nível superior
(Schwartzman, 1992). Além desse fenômeno da diminuição da demanda, o declínio
percentual das matrículas privadas, entre 1990 e 1994, também está associado ao
aumento das matrículas do segmento público estadual. Em 14 anos - de 1980 a
1994 - as matrículas nas universidades estaduais, gratuitas, tiveram um
crescimento9 de mais de 130%. Essa taxa foi superior até à verificada nas
matrículas das universidades privadas, de 86,6%, para esse mesmo período. Com
efeito, o crescimento das matrículas no segmento das universidades estaduais
contribuiu para manter significativa a participação relativa das matrículas do
setor público no sistema de ensino superior.
Também, no México, constata-se, desde 1980, uma
apreciável diminuição na taxa de crescimento das matrículas no ensino superior
comparativamente à década de 70. Entre 1981 e 1990, a taxa de crescimento foi
de 55%, decrescendo para 20% entre 1990 e 1994. Mesmo com essa redução, o
México apresentou, de todos os países analisados, a maior taxa de crescimento
de matrículas de ensino superior no período.
Deve-se notar que, no México, até o final da década
de 70, quando grande parte dos Estados latino-americanos já enfrentava escassez
de recursos, as dotações orçamentárias para universidades públicas tiveram até
um reforço. Mas a partir de 1982, a crise fiscal do Estado, aliada à redução
dos preços internacionais do petróleo, levaram a uma diminuição do orçamento
das instituições de ensino superior estatais, com um forte impacto sobre o
gasto público em ensino superior. Entre 1981 e 1989, os gastos governamentais
com o sistema diminuíram em cerca de 25%, passando de 1% do PIB, em 1981, para
0,7%, em 1989 (Kent, 1995).
De forma semelhante ao que vem ocorrendo na
Argentina, no México a participação relativa das matrículas privadas vem
aumentando desde 1990 (Tabela
2). Esse crescimento contínuo é muito significativo nesse país, onde,
durante quase meio século, a participação percentual do setor privado nas
matrículas de ensino superior esbarrava no teto de 15% e onde o setor público
foi o grande responsável pela expansão do sistema.
A dimensão relativamente reduzida do setor privado
no México e na Argentina, no período anterior, vincula-se, certamente, ao fato
de que, em ambos os países, desenvolveu-se um mass public sector ao
invés de um mass private sector (Geiger, 1986). O crescimento recente
das matrículas privadas parece indicar a exaustão da capacidade dos respectivos
Estados de continuar a arcar com os custos da ampliação do setor público de
forma a atender à demanda de ensino superior em grande escala.
Com efeito, em apenas três anos, de 1990 a 1993, no
México, o número de estabelecimentos isolados particulares de ensino superior
passou de 162 para 203. Em 1993, esses estabelecimentos representavam 47,2% do
total de instituições de ensino superior no país. Trata-se, em sua maioria, de
instituições de pequeno porte, que oferecem cursos nas carreiras de
Contabilidade, Administração, Hotelaria e Turismo (Kent, 1995). Também, nesse
período, foram criadas mais cinco universidades particulares. Em 1993, essas
instituições eram 55, superando, em número, as universidades públicas, que
somavam 46. No período entre 1990 e 1993, o crescimento das matrículas nos
estabelecimentos particulares isolados foi de 34%, passando de 65.819 para
88.296; no segmento das universidades privadas, o crescimento percentual das
matrículas foi de 23%, passando de 121.305 para 148.964 (Kent, 1995). A
ampliação recente se dá, portanto, à semelhança do caso da Colômbia, nas duas
pontas do sistema: na de alto e na de baixo prestígio.
Apesar desse movimento que se verifica nos últimos
anos no México - de ampliação do número de estabelecimentos privados e de suas
matrículas e, inversamente, de diminuição das matrículas nas universidades
nacionais públicas -, o setor público mexicano ainda respondia, em 1994, por
74,8% das matrículas totais de ensino superior (ver Tabela2).
Em suma, tanto no México como na Argentina, o aumento
da participação relativa das matrículas do setor privado nos respectivos
sistemas nacionais de ensino superior só logrou ultrapassar o patamar de 20%
quando diminuiu o ritmo da expansão das matrículas totais10. A correlação sugere que a possibilidade de expansão do setor
privado nos países em que osetor público voltou-se para o atendimento em grande
escala depende mais da incapacidade dos respectivos Estados de manter o ritmo
de crescimento do sistema do que, como ocorre atualmente no Brasil, da
ampliação da demanda de ensino superior.
Na Colômbia verifica-se também que o ímpeto de
crescimento das matrículas de ensino superior não é o mesmo da década de 70,
embora elas continuem crescendo. Entre 1981 e 1989, a taxa de crescimento das
matrículas totais foi de 55%; entre 1989 e 1994, de 18,2%. Apesar desse
decréscimo, na Colômbia, a taxa de crescimento das matrículas de ensino
superior mantém-se superior às taxas dos demais países. Entretanto, também como
ocorre nos outros países latino-americanos considerados, a Colômbia, desde os
anos 80, vem enfrentando dificuldades no financiamento das universidades
públicas. Durante longos períodos do ano de 1980, boa parte das universidades
estatais esteve fechada por falta de recursos (Lúcio, Serrano, 1993). As
medidas do governo no sentido de instituir novas políticas com o objetivo de
fortalecer a estrutura financeira das universidades públicas, mediante repasses
indiretos, não tiveram resultados efetivos. A introdução da cobrança de
mensalidades nas universidades públicas, a despeito de seu custo político, não
conseguiu resolver o problema do financiamento dessas instituições. Por sua
vez, o setor privado, financiado com recursos privados mediante o pagamento de
mensalidade dos alunos, vem ampliando continuamente, em termos absolutos e
relativos, suas matrículas. Em 1981, elas representavam 59%; em 1994 atingiram
64,1% do total das matrículas de ensino superior. De todos os países
considerados, é a Colômbia que apresenta, atualmente, a maior participação
relativa de matrículas privadas no sistema de ensino superior.
Os problemas que atingiram o ensino superior na
Colômbia, no início dos anos 80, além de persistirem, avolumaram-se nesta
década. Existe, atualmente, uma forte diferenciação vertical, ou estratificada,
no sistema de ensino superior (Lúcio, Serrano, 1993), a qual tende a ser
legitimada pelo reconhecimento de que algumas universidades - tanto públicas
como privadas - distinguem-se das demais por sua excelência acadêmica.
O sistema de ensino superior no Chile apresenta
outras características. Em dez anos (1980 a 1990), a taxa de crescimento de
matrícula de ensino superior ficou em 9,7%, a menor taxa verificada, para esse
período, de todos os países considerados. Entretanto, entre 1991 e 1994, ela
cresceu 31,1%, o que parece indicar o início de uma nova fase de expansão. No
que se refere à participação relativa das matrículas privadas, o período entre
80 e 94 indica crescimento acelerado.
Durante a vigência do regime militar no Chile,
houve declínio constante nos gastos públicos para o ensino superior: em 1979,
eles representavam 1,1% do PIB; em 1982, imediatamente depois da reforma
universitária (1980), situavam-se em 1% do PIB, decrescendo abruptamente para
0,6% do PIB em 1986 (Brunner, 1986). O declínio do financiamento público não
significou, contudo, ausência de controle, por parte do Estado, da expansão do
setor privado até quase o final do regime militar. A contração dos gastos
governamentais para o ensino superior, na realidade, derivou de duas lógicas
que prevaleceram em diferentes fases do regime autoritário chileno. Na primeira
fase, em que dominou a componente repressiva, a universidade chilena passou por
um processo muito parecido com o da universidade pública da Argentina: a
redução do financiamento público era uma estratégia que visava à desmobilização
política e à penalização do segmento universitário. Na segunda fase, que se
inicia no final dos anos 70, presenciou-se a formulação de um programa de
reforma para o ensino superior. Nesse programa, a redução dos aportes fiscais
para as universidades fazia parte de reformas estruturais mais amplas que começavam
a ser implementadas no país. A reforma educacional de 1980 inscreveu-se nesse
quadro (Klein, Sampaio,1996).
O objetivo da reforma educacional de 1980 no Chile
foi sobretudo o de redefinir o papel do Estado em relação aos encargos
financeiros referentes ao sistema de ensino superior. Uma das medidas da
reforma foi a introdução da cobrança de anuidades estudantis nas instituições
públicas. Desde a reforma, o governo começou a operar duas linhas de
financiamento: aportes fiscais diretos, distribuídos entre as universidades
antigas, tanto públicas como privadas, e entre as novas instituições, só
públicas, de acordo com percentuais fixos estabelecidos por lei; e aportes
fiscais indiretos, outorgados pelo Estado às universidades tradicionais, aos
institutos profissionais e às novas universidades privadas que tivessem, entre
seus alunos matriculados, estudantes entre os 27.500 mais bem colocados no
exame de ingresso (Brunner, 1993). Tal sistema de financiamento ainda está em
vigor. De um lado, pelo menos teoricamente, tem contribuído para diversificar
as fontes de recursos para o segmento do sistema de ensino superior com aporte
fiscal, instaurando mecanismos de financiamento múltiplos. De outro, parece
favorecer a expansão de um novo setor privado, que diferentemente das
universidades católicas tradicionais, independe de recursos públicos e atende
candidatos menos qualificados academicamente.
SETOR PRIVADO, MERCADO E ESTADO NA AMÉRICA LATINA
A trajetória do ensino superior privado e de sua
interação com o setor público em cinco países da América Latina - Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia e México - pode ser mais bem delineada com base nos
dados apresentados.
A característica mais evidente é o crescimento do
setor privado nos cinco países, tornando-se predominante em três: Brasil, Chile
e Colômbia. O timing da expansão do setor privado em cada país também
foi diferente. Mais precoce no Brasil e na Colômbia, intensificou-se no México,
Argentina e Chile nas décadas de 80 e de 90, período em que se verifica diminuição
no ritmo de crescimento das matrículas totais de ensino superior. Nestes três
países, a expansão do setor privado parece resultar antes das dificuldades do
setor público para manter seu ritmo de absorção da demanda de ensino superior
do que de uma explosão extemporânea desta demanda.
A segunda tendência comum aos diferentes sistemas
nacionais é a especificidade do segmento privado confessional. Sua emergência e
consolidação ocorreram de forma independente, ou apenas parcialmente
dependente, dos fatores de mercado, verificando-se tanto antes como durante o
período de crescimento das matrículas de ensino superior. O fato de as
universidades católicas tenderem a se organizar de forma semelhante às
universidades públicas conferiu-lhes uma função paralela nos sistemas de ensino
superior nos quais o setor público manteve-se mais restrito, preservando sua
qualidade. A diferença entre esses dois segmentos reside antes na oposição
laico/confessional do que na oposição setor público/setor privado. Em maior ou menor
grau, o segmento confessional recebeu recursos oficiais como se fosse público.
A terceira tendência diz respeito às diferentes
formas de interação entre setores público e privado no atendimento à demanda de
massa.
A primeira alternativa é representada pela
Argentina e pelo México. Nesses dois países, o Estado procurou suprir a demanda
de massa adotando políticas de ingresso irrestrito, ou quase, às universidades
públicas. Com isso, foi o setor público que cumpriu a função de mass sector (Geiger,
1986). A adoção do ingresso irrestrito abriu as portas das universidades
públicas, agigantando-as, e prejudicou o desenvolvimento da pesquisa e da
qualificação do pessoal docente.
Em contextos em que o setor público assumiu o
atendimento da demanda de massa, o setor privado tendeu a estabelecer uma
relação complementar com o primeiro. Criaram-se, assim, instituições privadas
mais seletivas que, mesmo não se desenvolvendo como grandes centros de
pesquisa, procuraram, ao menos, oferecer um ensino de qualidade superior àquele
oferecido pelas universidades públicas de massa.
A segunda opção parece ter sido a adotada pelo
Chile e Brasil. Procurou-se preservar, e até aprimorar, a excelência do setor
público mediante a implementação de políticas de estímulo às atividades de
pesquisa e à qualificação docente. Nessa alternativa, manteve-se o ingresso
restrito às universidades públicas. Mesmo ampliando, em alguns períodos, o
número de vagas oferecidas, o setor público foi incapaz de absorver a demanda
de massa, que foi represada. Essa demanda represada criou condições favoráveis
ao desenvolvimento da iniciativa privada.
A inibição, ou mesmo o controle, da expansão do
setor privado, simultaneamente à preservação de um ensino público seletivo, tal
como ocorreu no Chile, só se verificou em um contexto no qual o Estado
pretendeu e foi capaz de manter um controle muito rígido sobre o sistema de
ensino em seu conjunto e mostrou-se eficaz no enfrentamento da frustração da
demanda reprimida. No Brasil, ao contrário, onde a contenção do sistema de
ensino superior não ocorreu, a expansão do setor privado foi explosiva.
Quando a opção foi pela manutenção do caráter
seletivo do ensino público, as instituições privadas de elite tenderam a ocupar
um nicho pequeno no sistema, salvo quando foram também subsidiadas pelo Estado.
Nesse contexto, o segmento privado de elite cumpre funções similares às do
setor público e complementa o setor privado de massa.
A Colômbia constitui um caso singular. Nesse país,
constata-se que a ausência de tomada de decisão sobre a vocação do setor
público levou à fragmentação do sistema de ensino superior em instituições
públicas e privadas de diferentes padrões. Não se firmou nem um setor público
seletivo e de qualidade nem um setor público capaz de absorver a demanda de
massa. Instituições de ambos os setores - o público e o privado - cumprem todas
essas funções. A crise de financiamento do ensino público colombiano contribui,
ademais, para a deterioração da qualidade desse setor (Patrinos, 1990).
Teoricamente, seria possível uma terceira
alternativa. Contudo, ela não se realizou plenamente em nenhum dos países
considerados. A opção seria pela diversificação do setor público, preservando
algumas universidades de elite, voltadas para a associação entre pesquisa e
formação de pessoal qualificado e criando outras, mais flexíveis, mais
técnicas, ou mais voltadas para o ensino, que pudessem atender à demanda de
massa. Os cerca de 100 institutos tecnológicos públicos, no México, que
chegaram a absorver em torno de 200 mil estudantes, perfazendo quase 20% do
total de matrículas em nível superior11 em 1993, constituem tentativas, por parte do setor público, de
buscar maior diversificação na oferta de ensino superior.
Cabe notar que, no México, dada a reconhecida
deterioração de pelo menos parte do setor público e sua dificuldade de
incorporar a pesquisa, vêm sendo criadas, mais recentemente e de forma associada
às universidades, instituições voltadas à pesquisa. Essas instituições atuam de
modo semelhante à pós-graduação.
Embora existam iniciativas isoladas como essas, a
tendência geral foi a de uma diversificação muito pequena no atendimento
público de ensino superior. O Estado tendeu a seguir duas alternativas: a
manutenção de instituições seletivas ou a absorção da demanda de massa,
enquanto o setor privado se diversificou conforme as aberturas do mercado.
Os problemas que se apresentam para as políticas
públicas nos anos 90 provavelmente só poderão ser resolvidos se forem
repensadas as alternativas do ensino superior público e reorganizadas as
relações entre setor público e privado no sentido de superarem a oposição entre
qualidade e quantidade que hoje são constitutivas da heterogeneidade dos
sistemas de ensino superior nos países analisados.
O PÚBLICO E O PRIVADO NO DEBATE CONTEMPORÂNEO
Os anos 80 constituem também um divisor de águas na
interação entre Estado e sistemas de ensino superior. É nesse período que se
verificam algumas tendências de transformação dessa relação. O fenômeno não é
específico da América Latina, mas ocorrente e contemporâneo em diferentes
países e continentes (Levy, 1986; Still, 1991; Mahony, 1994; Neave, Van Vught,
1994).
O estabelecimento de um setor confessional,
ocorrido anteriormente, havia significado a quebra do monopólio do Estado sobre
o sistema de ensino superior. A existência, lado a lado, de setores
público/laico e privado/confessional, contudo, não implicou nenhuma alteração
na interação Estado e sistema de ensino superior. No limite, a relação que as
instituições católicas lograram estabelecer com o Estado foi de dependência
financeira, inclusive, como ocorreu em maior grau no Chile, mas também no
Brasil e na Colômbia. O mesmo modelo pode ser estendido à interação entre
Estado e instituições privadas laicas de elite.
Desde a segunda metade dos anos 80, entretanto,
dois fenômenos vêm confluindo para alterar as relações tradicionais que os
Estados dos países latino-americanos sempre mantiveram com os seus respectivos
sistemas de ensino superior: de um lado, a crise de financiamento que atinge os
Estados desses países, repercutindo no fluxo de recursos destinados ao setor
público; de outro, a consolidação de um mass private sector.
É nesse contexto que se desenvolve o debate
contemporâneo sobre os sistemas de ensino superior na América Latina. No
debate, o termo privatização tem sido usado para designar experiências muito
distintas: desde o aumento da participação relativa das matrículas privadas,
sobretudo nos países com uma larga tradição no atendimento público da demanda
de ensino superior (Argentina e México), a introdução da cobrança de taxas de
matrículas e de anuidades em universidades públicas (Chile no início dos anos
80 e mais recentemente na Colômbia), e até as propostas de controle de custos
no setor público de ensino superior, bem como as diferentes iniciativas de
avaliação institucional. A privatização transforma-se, assim, em um esquema
explicativo presente tanto em análises acadêmicas que se propõem a traçar a
trajetória do ensino superior privado na América Latina, como no debate
político que envolve a formulação das políticas para o ensino superior nesses
países. O debate, na maior parte das vezes, tende a ser reduzido à polarização
mercado versus Estado; em torno dessa polarização, alinham-se diversos
sujeitos que participam do sistema de ensino superior: os principais são os policy
makers, os experts, os docentes organizados, os estudantes, os proprietários
dos estabelecimentos privados, várias associações que reúnem representantes de
instituições públicas e privadas.
Em geral, segmentos do ensino superior público,
representados por suas entidades e sindicatos, advogam a manutenção do
financiamento estatal, e se possível, o incremento de recursos ao ensino
superior público. Atribuem, ainda, ao Estado, o controle da qualidade e da
expansão do setor privado, resistindo veementemente a qualquer possibilidade de
políticas de incentivo financeiro às instituições privadas de ensino superior.
Por sua vez, segmentos ligados ao setor privado pleiteiam, junto ao Estado e
seus representantes, menor rigidez nas normas que regulamentam a expansão do
ensino privado, pois segundo o entendimento desse grupo, cabe ao mercado, e não
ao Estado, o controle desse setor de ensino superior. A exceção se verifica,
como pode ser observado no Brasil, no caso da pesquisa. Algumas instituições
particulares têm-se organizado e procurado obter, junto aos órgãos de fomento à
pesquisa e à pós-graduação, recursos destinados a essa finalidade. De acordo
com os representantes da iniciativa privada, os recursos públicos para a
pesquisa são fundamentais para a promoção da qualidade do ensino superior particular.
Na Colômbia, em especial, as posições estão muito polarizadas. Conforme
observam Lúcio e Serrano (1993), enquanto alguns segmentos do sistema de ensino
superior atribuem ao Estado o papel de controlar a qualidade do sistema e
desenvolvê-lo, outros advogam a necessidade de maior independência para o
sistema de ensino superior em relação ao Estado, com instituições livres para
decidirem que modalidades de programas e cursos irão desenvolver, ou seja, um
sistema mais plenamente voltado para o mercado12.
Para se entender o conflito político subjacente,
devem-se considerar os instrumentos que, tradicionalmente, estiveram à
disposição do Estado para controlar o desenvolvimento dos sistemas de ensino
superior. Nos países estudados foram basicamente dois: o normativo, por meio de
legislação, e o financeiro. O primeiro aplica-se a todo o sistema de ensino
superior; o segundo, o financeiro, com exceção do Chile, tendeu a se restringir
ao ensino superior público.
No Brasil, em especial, a tendência sempre foi o
excesso de normas legais, o que muitas vezes mais engessou do que promoveu o
desenvolvimento da qualidade do ensino superior, tanto público quanto privado.
Já o controle da distribuição do montante dos recursos financeiros, que tem-se
mostrado mais eficaz, não se aplica ao setor privado em seu conjunto.
Nos setores públicos ou nos privados que apresentam
dimensões reduzidas e são mais seletivos, a eficácia do controle de qualidade
dependeu de fator exógeno à ação governamental: a comunidade acadêmica, ou
oligarquia acadêmica, na designação de Clark (1983). É a comunidade acadêmica
que tem, tradicionalmente, assegurado os mecanismos internos de promoção da
qualidade; esses mecanismos completam a ação do Estado e são indispensáveis
para o ajuste do sistema em seu conjunto.
Retomando a questão levantada no início deste
trabalho, devemos reafirmar que, no setor privado de atendimento à demanda de
massa, a ação da autoridade acadêmica é praticamente neutralizada. Em seu
lugar, surge a figura das mantenedoras - as proprietárias dos estabelecimentos
privados de ensino superior. A lógica que orienta a oferta de ensino superior
nesses estabelecimentos se prende antes às exigências do mercado. A orientação
para o mercado, associada à perda de autonomia (e mesmo de influência) do corpo
acadêmico no setor privado empresarial, soa como uma ameaça ao próprio ethos
universitário. No setor privado de atendimento de massa, normalmente a
competição entre os estabelecimentos não se estabelece nem para valorizar a
preparação e a qualificação do corpo docente nem para promover a qualidade do
ensino.
Em suma, o que tem ocorrido nos diferentes países é
uma impossibilidade de orientar, com os instrumentos de controle à disposição
do Estado, a qualidade do ensino oferecido. Essa é uma das principais razões
pelas quais, nesses países, os Estados vêm adotando novos instrumentos de
controle, não meramente normativos, sobre os respectivos sistemas de ensino
superior. Um dos instrumentos é a avaliação de desempenho das instituições, a
qual se tornou foco de intenso debate nos últimos anos. A introdução de
mecanismos de avaliação institucional estabelece uma nova forma de controle do
Estado sobre o conjunto do sistema alternando as relações tradicionalmente
existentes. Em relação ao setor público, a avaliação institucional cumpre, além
de controlar a qualidade, a função de orientar a política de financiamento das
instituições que compõem o setor, aumentando o controle governamental sobre
ele. No tocante ao setor privado de atendimento de massa, a avaliação
institucional visa, sobretudo, promover o controle de qualidade, eliminando o
excesso de autonomia que caracteriza as instituições desse setor.
A modificação das relações entre poder público e
sistema de ensino superior encontra forte oposição, esbarrando em interesses
corporativos solidamente entrincheirados nos sistemas nacionais. Contudo, o
interesse por parte dos Estados na institucionalização da avaliação constitui
resposta necessária às profundas transformações pelas quais passam os sistemas
de ensino superior latino-americanos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BALÁN, J.
Governance and finance of national universities
in Argentina: current proposals for change. Higher Education, v. 25, n.1, p. 45-60, 1993.
______. La
Universidad privada en América Latina. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE
EDUCACIÓN SUPERIOR. Desafios de la
educación superior. La Paz: Unidad de Análisis de Politicas Sociales,
1993ª.
BARON, A. Economía
política de la educación superior: reflexiones sobre la experiencia
argentina. Educación Superior y Sociedad, v. 7, n. 2, p. 23_50, 1996.
BRUNNER,
J. J. Chile's higher education:
between market and state. Higher
Education, v. 25, n. 1, p. 35-44, 1993.
______. Informe
sobre la educación superior en Chile. Santiago: Flacso, 1986.
CLARK, B.
The
higher education system. Los Angeles: University of California
Press, 1983.
COX, C. Higher education policies in Chile in the
90's. Higher Education Policy,
v. 9, n. 1, p. 29-43, 1996.
CUNHA, L. A. Universidade:
ensino público ou liberdade de ensino? In: BORI, C. (org.). Ciência e Cultura, v. 37, n. 7, p.
9.220-8, 1985.
______. A Universidade crítica. 2. ed.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.
DELLA PAOLERA, G. D. El Mercado universitario en la Argentina y la universidad de gestion
privada. In: seminário Internacional sobre Educación Superior. Desafios de la Educación Superior. La
Paz: Unidad de Análisis de Politicas Sociales, 1993.
DURHAM, E. R. Uma política para o ensino superior.
São Paulo, 1993.
FANELLI, A. M. Las Nuevas universidades del conurbano
bonarense: misión demanda externa y construcción de un mercado
académico. Buenos Aires, 1997.
FIGUEROA,
C. P. Challenges of higher education in
Mexico during the nineties. Higher
Education Policy, v. 9, n. 1, p. 45-54, 1996.
FUENZALIDA,
E. F. The Institucionalization of research in Chile's universities. California: Stanford
University, s.d. mimeo.
GARCIA, C. G. La
Reforma de la educación superior en Venezuela desde una perspectiva comparada.
In: CATANI, A. (org.). Congresso
Internacional de Políticas de Educação Superior na América Latina no Limiar do
Século XXI, Recife, 1997.
GEIGER,
R. Private sectors in higher education: structure, funcion and
change in eight countries. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1986.
KENT, R. Tendencias
y problemas en la educación superior en Mexico: los años noventa. Mexico: Departamento de
Investigación de Estudios Avanzados del Instituto Politécnico Nacional, 1995.
KLEIN, L., Sampaio, H. Actores, arenas y temas básicos.In: KENT, R. (org.) Los temas críticos de la educación superior
en America Latina:estudos comparativos. Mexico: Flacso, Fondo de Cultura
Económica, 1996.
LEMAITRE, M. J. El Consejo Superior de Educación: una experiencia de regulación de
instituciones privadas de Educación Superior. Informe de la Educación Superior. Argentina: Colección Foro de
la Educación Superior, p.177-272, 1993.
LEVY, D. Alternative private-public blendy in higher
education finance: International patterns. In: Levy, D. (org.). Private education studies in choice and
public policy. Oxford: Oxford University Press, 1986. p. 195-213.
______. Higher
education and state in Latin America: private challenges to public
dominance. Chicago, Illinois: University of Chicago Press, 1986a.
______. Private institutions of higher education.
In: CLARK, B., NEAVE, G. (orgs.). The
Encyclopedia of higher education. New York: Pergamon Press, 1992, v. 2,
p. 1183-95.
LÚCIO, R., Serrano, M. La Educación superior en
Colombia: desarrollo, tendencias, políticas estatales. Colombia, 1991.
______. The State and higher education in Colombia.
Higher Education, v. 25,
p.61-72, 1993.
MAHONY,
D. Government and the universities:
the new mutuality in australian higher education; a national case study. Journal of Higher Education, v. 65,
p. 123-46, 1994.
MARQUIS,
C. El Gobierno nacional y las universidades argentinas. Buenos
Aires, 1992.
MARTINS, C. B. De
la evaluación a las reformas en el sistema universitario argentino. Educación Superior y Sociedad, v. 7,
n. 2, p. 13-22, 1996.
______. O
Novo ensino superior privado no Brasil 1964-1980. In:
MARTINS, C. B. (org.). O Ensino superior brasileiro: transformações e perspectivas.
São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 11-48.
MATTOS, P. L. C. L. As Universidades e o governo
federal. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.
NEAVE,
G., Van Vught, F. (orgs.). The Change relationships between
gouvernement and higher education in western europe. Oxford:
Pergamon Press, 1994.
PATRINOS,
H. A. The Privatization of higher
education in Colombia: effects on quality and equity. Higher
Education, v. 20,
p. 161-73, 1990.
SCHWARTZMAN, J. Uma folha de pagamento das
universidades federais. São Paulo, 1993.
SCHWARTZMAN, S. Brazil. In: CLARK, B., NEAVE, G. (org.). The Encyclopedia of higher education.
Oxford: Pergamon Press, 1992, p. 82-92.
SCHWARTZMAN,
S., Bomeny, M. H. B., RIBEIRO, V. M. C. (orgs.). Tempos de Capanema. São Paulo: Edusp; Paz e Terra,
1984. Parte III: Tempo de Reforma. p.173-230.
STILL, J.
Private higher education: the
Philippines as a prototype. Higher
Education, v.21,
p.189-206, 1991.