Blog História do Ensino Superior Mundial, de autoria de Álaze Gabriel.
Disponível
em http://historiadoensinosuperiormundial.blogspot.com.br/
Autoria:
Antônio
Joaquim Severino. Professor da Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo/FEUSP.
RESUMO
Desenvolve-se, sob uma perspectiva
filosófico-educacional, algumas reflexões sobre os compromissos da educação no
âmbito de um projeto de universidade empenhada na construção de uma nova
sociedade, que seja marcada pela universalização da cidadania, a ser construída
pela utilização do conhecimento. Trata-se de um esforço no sentido de
apresentar, mediante argumentação teórica, uma justificativa filosófica da
necessária articulação entre ensino, pesquisa e extensão, nessa desejada
universidade, destinada a enfrentar os desafios históricos do novo século.
Palavras-chave: Universidade; Educação; conhecimento; cidadania;
ensino superior.
INTRODUÇÃO
Ciente das limitações da perspectiva filosófica,
desenvolvo considerações tentando sistematizar um olhar sobre aquela
universidade que todos buscamos, em condições de contribuir para a construção
de uma outra sociedade brasileira, marcada pela cidadania e pela democracia.
Uma universidade que, funcionária do conhecimento, possa colocá-lo a serviço da
sociedade. Comprometida com o conhecimento, ela o será, também, com a extensão
e a pesquisa, tanto quanto com o ensino.
A UNIVERSIDADE NUM NOVO TEMPO
Nos dias de hoje, o próprio sentido da existência
da universidade já não parece tão claro, podendo-se perceber que, além das
críticas oriundas de setores especializados, uma espécie de questionamento
generalizado, difuso em todo o corpo social, se faz cada vez mais presente e
explícito. O sentimento geral de frustração em relação às expectativas não
realizadas e às promessas não cumpridas de desenvolvimento e progresso das
sociedades, a desvalorização da cultura elaborada e a banalização das
referências em todos os setores da vida humana, são causas abrangentes que
levam igualmente à desvalorização da universidade. No que concerne à sociedade
brasileira, a crise profunda que se abate sobre ela, de modo especial no que se
refere à restrição de empregos e à perda de prestígio das carreiras
profissionais de nível universitário, é certamente outro fator que pesa na
desconsideração da relevância desse tipo de instituição. Por outro lado, a
universidade, como instituição da esfera educacional, sofre de processo crônico
de corrosão interna, deteriorando-se continuamente e comprometendo sua própria
eficácia, tornando-se pouco fecunda no atingimento de seus objetivos,
consagrados pela tradição e reiterados pela retórica dominante. As
universidades públicas, o mais das vezes vitimadas pelos vícios esclerosantes
do regime burocrático, mal domesticado pelos profissionais do setor, acabam se
fechando sobre si mesmas, passando a um estado quase que vegetativo, sem força
nem vitalidade. As poucas exceções de instituições ou de setores no seu
interior, sucumbem sob o peso de pressões espúrias e de muitas opressões,
oriundas tanto do aparelho estatal como de grupos internos, que se apropriam de
seus instrumentos como se fossem bens particulares e que são incapazes de se
articularem em torno de projetos de pensamento ou ação alguns passos além de
seus interesses imediatos e egocentrados. Já as universidades particulares,
salvo raras e precárias exceções, incapazes de pensar algum projeto cultural
mais amplo e de entender o alcance dos serviços educacionais que administram,
contentam-se em empacotar, com papel brilhoso, produtos mal acabados,
vendendo-os, sempre a bom preço, a clientes, carentes, incautos ou mesmo
cúmplices na esperteza ou na mediocridade, tudo sob a propaganda marcada pela
ideologia da qualidade total e de outros mitos que andam povoando o imaginário
nacional em tempos de globalização econômica e cultural.
A realidade do processo de internacionalização da
economia, com todos os seus corolários, bons e ruins, é transfigurado numa
espécie de fenômeno místico e redentor, passando a constituir-se como contexto
e justificativa para tudo o que ocorre ou que deveria ocorrer. A alardeada
globalização serve de desculpa para todo tipo de omissão ou de decisão,
tornando-se o biombo de tantas políticas excusas atualmente implementadas pelo
governo brasileiro, em todos os campos da vida nacional.
Nesse contexto de ambigüidades e ambivalências, os
conceitos perdem sua força e o discurso vira ruído. A fala dos supostos
responsáveis pelo bem público indica numa direção, mas a realidade das coisas
caminha na direção inversa. Por isso mesmo, os espíritos ficam confusos,
perdendo a lucidez na visão das coisas humanas.
A significação da universidade se dilui nesse
emaranhado de idéias e proposições que vêm sendo formuladas, no momento atual,
como indicação de que a humanidade teria entrado numa nova era, que superaria
tudo que havia construído e acumulado. Tornou-se discurso corrente e recorrente
a afirmação incisiva de que estaríamos vivendo hoje, no limiar do terceiro
milênio, um mundo totalmente diferente daquele projetado pela visão iluminista
da modernidade e destinado à realização de uma sociedade utópica. Chega-se a
afirmar que a história teria terminado, uma vez que a civilização humana teria
alcançado o patamar mais alto do progresso possível para a humanidade. Já se
encontrariam realizadas todas as possibilidades de aperfeiçoamento, de
aprimoramento de nossas condições de vida individual e social. O modelo de
existência humana não é mais um ponto no horizonte futuro, mas já está
disponível no presente, faltando apenas que cada pessoa ou cada grupo a ele se
ajustasse. Estaríamos vivendo um momento de plena revolução tecnológica, capaz
de lidar com a produção e transmissão de informações em extraordinária
velocidade, num processo de planetarização não só da cultura mas também da
economia e da política. Tratar-se-ia de um momento marcado pelo privilegiamento
da iniciativa privada, pela minimalização da ingerência do Estado nos negócios
humanos, pela maximalização das leis do mercado, pela ruptura de todas as
fronteiras e barreiras entre estados e mercados. No plano mais especificamente
filosófico, estaria em pauta uma crítica cerrada às formas de expressão da
razão teórica da modernidade, propondo-se a desconstrução de todos os discursos
por ela produzidos, todos colocados sob suspeita, inclusive aqueles da própria
ciência. Esse mundo novo dispensa a universidade tradicional, forjada à luz das
referências da modernidade, uma de suas expressões mais arrematadas.
No entanto, este vagalhão neo-liberal, com suas
decorrências e expressões no plano cultural, com sua exacerbação do
individualismo, do produtivismo, do consumismo, da indústria cultural, da
mercadorização até mesmo dos bens simbólicos, não instaura nenhuma
pós-modernidade. O que está acontecendo é a plena maturação das premissas e
promessas da própria modernidade. Nada mais moderno do que esta expansão e
consolidação do capitalismo, envolvido numa aura ideológica de liberalismo extremado;
nada mais moderno do que esta tecnicização, viabilizada pela revolução
informacional. Finalmente, a modernidade está podendo cumprir as promessas
embutidas em seu projeto civilizatório. No fundo, é a mesma racionalidade, com
suas qualidades e com seus equívocos, que continua dirigindo os rumos da
história humana, em que pesem as críticas que são feitas a sua forma de
expressão até o século XIX. É a mesma razão instrumental da modernidade, já tão
criticada pelos pensadores frankfurtianos, especialmente por Adorno e
Horkheimer, que continua dando as cartas. Só que agora ela se camufla, na hora
de fazer sua auto-justificativa, sob um discurso cujos argumentos soam
anti-iluministas, enquanto a condição da realidade humana, em todos os planos
da vida individual ou coletiva, continua sendo feita de acordo com parâmetros
racionais eminentemente tecnocráticos. Denuncia-se a racionalidade iluminista,
de uma perspectiva crítica aliás muito pertinente, sem que se assuma, de fato,
a superação de suas determinações. E mais incapaz ainda de denunciar os
comprometimentos dessa instrumentalidade com a irracionalidade da "mão
invisível do mercado" e de tantas outras forças que atuam efetivamente no
social. Esta "desrazão", intimamente articulada à barbárie é muito
mais instrumentalizadora e manipuladora de nossos destinos do que a razão
iluminista. Não é o caso de desconhecer os resultados nefastos do racionalismo
iluminista mas também não é o caso de achar que todos os males da humanidade
lhe devam ser debitados.
Esse discurso da globalização não passa de uma nova
versão ideologizada do capitalismo e sua função continua sendo aquela de
justificar o atual estado de coisas. A globalização econômico-cultural não é um
processo de universalização mediante o encontro e a fusão das diferentes
regiões, países e modelos culturais. Ao contrário, a planetarização ocorre como
homogeneização forçada e induzida das condições capitalistas de produção, de
feitio fundamentalmente norte-americano, não levando em conta as possíveis contribuições
dos outros. É a pax romana, imposta urbi et orbi.
Esta planetarização do capitalismo continua dentro
das previsões de Marx. De autenticamente liberal ou neo-liberal, tem muito
pouco, é de perfil francamente tecnocrático no que concerne ao usufruto dos
bens e direitos por parte dos segmentos fragilizados e excluídos, em termos de
pessoas e sociedades.
O que não dizer da transformação da economia em
mero mercado financeiro, como o vêm demonstrando sobejamente as constantes
crises impostas, sobretudo aos países emergentes do terceiro mundo, pelo
capitalismo especulativo? Afinal, o que de racional e de eqüitativo existe numa
economia onde o capital disponível para a humanidade se distribui em 88% de
capital financeiro especulativo contra apenas 12% de capital produtivo?
Que tal situação configure um contexto novo, não há
como negar nem recusar. E que obviamente exige reequacionamentos por parte de
todos nós, quaisquer que sejam os lugares que ocupemos na dinâmica
socio-cultural. Isso não está em questão. Mas o que cabe aqui é uma rigorosa
atenção a essa especificidade do momento histórico, não se deixando levar nem
por uma atitude de mera anatematização moralizante ou saudosista, nem por um
deslumbramento alienante. Análise detida e vigilância crítica, é o que nos cabe
neste quadrante histórico...
Igualmente é preciso não perder de vista a
historicidade da existência humana, não se deixando iludir pela idéia de que o
fim das utopias do progresso humano possa significar igualmente o fim da
história. Portanto, ter bem presente que a atual situação tem também uma
configuração histórica que, como tal, terá seus desdobramentos, cuja orientação
dependerá em muito da própria ação e decisão dos homens. Do mesmo modo, é bom
ter presente que crise da razão não é crise do processo de conhecimento. A
alegada crise dos paradigmas da razão moderna não atinge o conhecimento em si,
o poder do homem em produzir e dispor do conhecimento, mas suas formas
históricas (a ciência positiva, a filosofia idealista, as metanarrativas); a
própria crítica que a elas são feitas, o são pelo exercício e aplicação do
próprio conhecimento.
Mas, antes de tudo, não se pode perder de vista a
dura realidade do contexto histórico latino-americano, onde as marcas da
exclusão humana continuam com presença muito forte. O processo de modernização
pelo qual passou e continua passando o continente está acontecendo a um preço
muito alto. A organização econômica, de lastro capitalista, sob um clima
político de mandonismo interno das elites nacionais e da dominação externa dos
grupos internacionais, impõe uma configuração socio-econômica na qual as
condições de vida da imensa maioria da população continuam extremamente
precárias. Na verdade, o aclamado processo de globalização da economia parece
universalizar as vantagens do capital produtivo e as desvantagens do trabalho
assalariado.
Dada essa situação, o lugar e o papel da educação
precisam ser contínua e expressamente retomados e redimensionados. O
compromisso ético e político da educação se acirra nas coordenadas
histórico-sociais em que nos encontramos. Isto porque as forças de dominação,
de degradação, de opressão e de alienação, se consolidaram nas estruturas
sociais, econômicas e culturais. As condições de trabalho são ainda muito
degradantes, as relações de poder muito opressivas e a vivência cultural
precária e alienante. A distribuição dos bens naturais, dos bens políticos e
dos bens simbólicos, muito desigual. As condições atuais de existência da
humanidade, traduzidas pela efetivação de suas mediações objetivas, são
extremamente injustas e desumanizadoras. Tais condições mostram-se muito
agravadas no contexto historico-social do terceiro mundo, assumindo
características particularmente críticas na América Latina.
É também por exigência ética que a educação deve se
conceber e se realizar como investimento intencional sistematizado na
consolidação das forças construtivas das mediações existenciais dos homens. É
isto que lhe dá, aliás, a sua qualificação ética. É por isso também que o
investimento na formação e na atuação profissional do educador não pode
reduzir-se a uma suposta qualificação puramente técnica. Precisa ser também
política, expressar sensibilidade às condições historico-sociais da existência
dos sujeitos envolvidos na educação. E é sendo política que a educação e a
cultura se tornarão intrinsecamente éticas.
O futuro da sociedade brasileira está na
dependência da sua transformação em uma sociedade menos excludente. E nesse
processo, a educação, diretamente vinculada à produção econômica e à dinâmica
política, terá papel relevante no compromisso de responder aos desafios da alta
modernidade.
Construir o futuro implica investir na educação, na
perspectiva de uma política educacional intrinsecamente voltada para os
interesses humanos da sociedade, visando à superação intencional e planejada de
suas forças de exclusão social. Mas, o desenvolvimento da educação numa
sociedade historicamente determinada como a nossa, não é questão apenas do
domínio e da aplicação de novos saberes e de tecnologias sofisticadas. É
verdade que não se pode ignorar toda a potencialidade das novas tecnologias
para o desenvolvimento da educação, de outro, é também necessário que essa
tecnologia seja vista como ferramenta, como o foram historicamente todos os
demais instrumentos técnicos. Meios potencializadores são necessários, mas
continuam sendo meios, sempre à espera da adequada exploração pelos homens.
Assim, toda educação e toda política cultural têm compromisso especial com a
preparação de cidadãos para a vida, função esta que decorre de sua natureza
intrínseca como processo construtor do conhecimento, única ferramenta de que o
homem dispõe para a realização de sua existência histórica. .
DO COMPROMISSO DA UNIVERSIDADE COM A PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO
As mudanças no plano cultural são significativas
exatamente na medida em que decorrem e se articulam em torno de intencionalidades,
de sentidos que os próprios agentes lhes dão, procedendo a uma escolha entre
múltiplas possibilidades, com todos os riscos que tal opção pode ensejar, como
nos mostra a nossa própria experiência acumulada.
O conhecimento é o diferenciador do agir humano em
relação ao agir de outras espécies, é a grande estratégia da espécie. Mesmo as
suas formas enviesadas, como ocorre nos casos do senso comum, da ideologia, o
conhecimento já se revela como o instrumento estratégico dos homens, testemunhando
sua imprescindibilidade e sua irreversibilidade em nossa história. Por isso,
quando falamos das transformações na esfera da humanidade, estamos
necessariamente falando de história e não mais de evolução. História porque as
mudanças vão se suceder, não mais por conseqüência de determinismos
transitivos, mecânicos, que supostamente governam os fenômenos do mundo, mas em
decorrência de significações intencionalizadoras postas pelos próprios sujeitos
humanos na implementação de suas ações. Desse modo, a temporalidade da vida
humana é profundamente diferente da temporalidade presente no mundo físico ou
no mundo biológico. Aqui o tempo não é mais apenas uma sucessão acumulativa de
novas etapas, mas uma sucessão criativa de novos estágios não necessariamente contidos
nos anteriores. Daí a idéia de construção mediante a qual vem se designando a
especificidade das atividades humanas em sua historicidade. E quando se fala de
construção, fala-se igualmente de projeto, de planejamento, da capacidade de se
prever o que se pretende realizar.
O conhecimento é elemento específico fundamental na
construção do destino da humanidade. Daí sua relevância e a importância da
educação, processo mediante o qual o conhecimento se produz, se reproduz, se
conserva, se sistematiza, se organiza, se transmite e se universaliza. E esse
tipo de situação se caracteriza de modo radicalizado na educação universitária.
No entanto, a tradição cultural brasileira privilegia a condição da
universidade como lugar de ensino, entendido e, sobretudo, praticado como
transmissão de conhecimentos. Apesar da importância dessa função, em nenhuma
circunstância pode-se deixar de entender a universidade igualmente como lugar
priorizado da produção do conhecimento. A distinção entre as funções de ensino,
de pesquisa e de extensão, no trabalho universitário, é apenas uma estratégia
operacional, não sendo aceitável conceber os processos de transmissão da
ciência e da socialização de seus produtos, desvinculados de seu processo de
geração.
Na universidade, a indissociabilidade ensino,
pesquisa e extensão tem como referência a pesquisa; aprende-se e ensina-se
pesquisando; presta-se serviços à comunidade, quando tais serviços nascem e se
nutrem da pesquisa.
Cabe ressaltar que a produção do conhecimento
precisa ser crítica, criativa e competente; e será consistente se fundada num
processo de competência simultaneamente técnica, criativa e crítica. A competência
técnica impõe algumas condições lógicas, epistemológicas e metodológicas
para a ciência: a exigência de aplicação do método científico, da precisão
técnica e do rigor filosófico. A exigência da autonomia e liberdade de criação
tem a ver com a atitude, as condições de pesquisador; referindo-se à
criatividade e ao impulso criador. A criticidade é qualidade da postura
cognoscitiva que permite entender o conhecimento como situado num contexto mais
amplo e envolvente, que vai além da simples relação sujeito/objeto. É a
capacidade de entender que, para além de sua transparência epistemológica, o
conhecimento é sempre uma resultante da trama das relações sócio-culturais.
Capacidade de descontar as interferências ideológicas, as impregnações do senso
comum. É a criticidade que nos livra tanto do absolutismo dogmático como do
ceticismo vulgar.
Desse modo, a pesquisa acaba assumindo uma tríplice
dimensão. De um lado, tem uma dimensão epistemológica: a perspectiva do
conhecimento. Conhece-se construindo o saber, praticando a significação dos
objetos. De outro lado, assume uma dimensão pedagógica: a perspectiva decorrente
de sua relação com a aprendizagem. Tem ainda uma dimensão social: a perspectiva
da extensão. O conhecimento se legitima pela mediação da intencionalidade da
existência histórico-social dos homens. É a única ferramenta de que o homem
dispõe para melhorar sua existência.
...e como é que a extensão se torna uma atividade,
uma função equiparada às duas outras? Na medida em que ela se articula com as
demais e na medida em que o próprio ensino seja visto, também, como prestação
de serviços à sociedade em seu conjunto, na medida em que a própria pesquisa
seja vista como uma prestação de serviços à própria sociedade. Então, que
pesquisas a universidade vai desenvolver? Ela vai desenvolver exatamente
aquelas pesquisas que a sociedade está requerendo, vai se preocupar em explorar
aqueles problemas que são candentes à sociedade em que ela está inserida.
(Saviani, 1984, p.64-5)
PARA FINALIZAR...
A pesquisa é fundamental, uma vez que é por meio
dela que podemos gerar o conhecimento, a ser necessariamente entendido como
construção dos objetos de que se precisa apropriar humanamente. Construir o
objeto que se necessita conhecer é processo condicionante para que se possa
exercer a função do ensino, eis que os processos de ensino/aprendizagem
pressupõem que tanto o ensinante como o aprendiz compartilhem do processo de
produção do objeto. Do mesmo modo, a pesquisa é fundamental no processo de
extensão dos produtos do conhecimento à sociedade, pois a prestação de qualquer
tipo de serviços à comunidade social, que não decorre do conhecimento da
objetividade dessa comunidade, é mero assistencialismo saindo da esfera da
competência da universidade.
Por outro lado, o conhecimento produzido, para se
tornar ferramenta apropriada de intencionalização das práticas mediadoras da
existência humana, precisa ser disseminado e repassado, colocado em condições
de universalização. Ele não pode ficar arquivado. Precisa então transformar-se
em conteúdo de ensino, de modo a assegurar a universalização de seus produtos e
a reposição de seus produtores.
Mas os produtos do conhecimento, instrumentos
mediadores do existir humano, são bens simbólicos que precisam ser usufruidos
por todos os integrantes da comunidade, à qual se vinculam as instituições
produtoras e disseminadoras do conhecimento. É a dimensão da extensão,
devolução direta à mesma dos bens que se tornaram possíveis pela pesquisa.
Devolvendo à comunidade esses bens, a universidade o faz inserindo o processo
extensionista num processo pedagógico, mediante o qual está investindo,
simultaneamente, na formação do aprendiz e do pesquisador.
A extensão tem que ser intrínseca ao exercício
pedagógico do trabalho universitário. Não se trata de uma concessão, de um
diletantismo, mas de uma exigência do processo formativo. Toda instituição de
ensino superior tem que ser extensionista, pois só assim ela estará dando conta
da formação integral do jovem universitário, investindo-o pedagogicamente na
construção de uma nova consciência social. Deve expressar a gênese de propostas
de reconstrução social, buscando e sugerindo caminhos de transformação para a
sociedade. Pensar um novo modelo de sociedade, nos três eixos das práticas
humanas: do fazer, do poder e do saber, ou seja, levando a participação
formativa dos universitários no mundo da produção, no mundo da política e no
mundo da cultura.
Dado o caráter contraditório da universidade, como
toda entidade sócio-cultural criada por homens, não há mesmo como desconhecer
as limitações da extensão a ser por ela praticada.
a extensão universitária em uma dimensão de mudança
social na direção de uma sociedade mais justa e igualitária tem
obrigatoriamente de ter uma função de comunicação da universidade com seu meio,
possibilitando, assim, a sua realimentação face à problemática da sociedade,
propiciando uma reflexão crítica e uma revisão permanente de suas funções de
ensino e pesquisa. Deve representar, igualmente, um serviço às populações, com
as quais os segmentos mais conscientes da universidade estabelecem uma relação
de troca ou confronto de saberes. (Gurgel, 1986, p.170)
REFERÊNCIAS
GURGEL, R. M. Extensão Universitária: comunicação
ou domesticação. São Paulo: Cortez/Autores Associados/EUFC, 1986.
SAVIANI, D. Extensão universitária: uma abordagem
não-extensionista. In: Ensino público e algumas falas sobre Universidade.
São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984. (Col. Polêmicas de Nosso Tempo,
v.10).